domingo, outubro 30, 2005

O bêbado e a equilibrista I

Reunião de amigos. Quinze anos sem se ver. Leonardo, que desde tempo imemoráveis era o afamado “arroz de festa”, reuniu a toda a turma em sua casa. Badalador, mas agora veterinário, separou as galinhas d´angola de um lado, as iguanas de outro e levou os cães para um hotel. Jussara, a cobra de estimação, ficara na casa para servir de atração, mas tornara-se o pavor da maioria.
- Leo, tira esse bicho daqui. – Gritava Solange.
- Ô nardão, meu filho vai ser o almoço de cobra, me acode!!! – retorquia Otávio.

Mas Jussara, aos poucos, aquietou-se. Entrara em sua velha caixa de sapato num canto da casa e ficara. Foi a partir daí que a festa realmente começou. A principio, olhares desconfiados lançavam-se a cada um que chegava. Despois, o sorriso seguido de um longo abraço quebrava a tensão e o recém-chegado logo se misturava aos demais. Todos estranhamente diferentes pela ação do tempo e destino que escolheram para as suas vidas.

Faculdade, familia, filhos, trabalho, viagens. Cursos, simpósios, workshops. E vai ano, entra ano. Cada um vivera seus sonhos e hoje era o grande dia de compartilhas as conquistas e as emoções com os velhos amigos. Mas, à distância que afastara os colegas de 3 anos de colégio técnino, agora reunia.

A tagarela Charlene tornara-se embaixadora. Jonas, o gordo caricaturista, tornara-se arquiteto. Mônica, que adorava imitar os professores, atriz de teatro, sua peça estava em cartaz na cidade. Clóvis, o cara que vivia com gel no cabelo, tornara-se reconhecido piloto de helicoptero, há 6 anos. E a festa seguiu, entre risos, recordações, gargalhadas, chacotas e fotos amareladas até que o povo comecou a se despedir.

Dos trinta e dois presentes restaram apenas nove, mas a nenhum deles era possível fazer sequer um oito, tal o grau de embriaguez. Dentre entre, Carlos, o moleque dos óculos engraçados, agora operado da miopia e da apendicite, era o mais cômico. Sempre quieto no seu canto, era sujeito de sorriso fácil, dissolvia-se sem muito esforço entre gente difícil. De suas veias jorrava o jeitinho leve de conduzir o rumo da prosa sem peleja. Virou diplomata. E, na ebriedade em se encontrava, balbuciava palavras robustas, quase desconexas, mas sempre com toda a polidez que fora possível demonstrar.
(Continua)

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